1.
Sinais do perigo…
“O que não provoca
minha morte faz com que eu fique mais forte.” F. Nietzsche
Vivemos na chamada
era da informação. Dobramos os nossos conhecimentos nos últimos anos. Sabemos
sobre tudo! Em nossos dias é difícil alguém justificar erros com base em falta
de informação. Quem pode desculpar-se por contrair o vírus da Aids? Há campanhas e mais
campanhas sobre a prevenção dessa doença. Quem pode dizer não saber que o
cigarro causa câncer na garganta e nos pulmões? O Governo investe muito
dinheiro para advertir a população sobre esses riscos. Quem pode dizer não
saber que álcool e direção não combinam?
O mesmo acontece no
mundo espiritual com as coisas de Deus. Quem pode alegar desconhecimento da
vontade de Deus para a sua vida? Está na Bíblia o que Deus requer de todo homem
e de toda mulher. E quem não tem uma Bíblia? A verdade é que muitos de nós temos
várias Bíblias em casa; basta tomá-la e ler o que Deus inspirou os antigos a
escreverem sobre qualquer assunto. Está escrito nela; não precisa ser profeta
nem apóstolo para saber a vontade de Deus. Nem no passado, nos tempos de Davi
ou dos juízes de Israel. Moisés já havia escrito a Torah, que contém os
mandamentos do Senhor para o povo de Israel. Já naqueles tempos um homem sabia
o que Deus requeria de seu povo.
E hoje sabemos mais
sobre as coisas de Deus, porque reunimos Antigo e Novo Testamentos e com eles
as experiências de cerca de quarenta homens que escreveram as Escrituras.
Assim, quando falamos
sobre os sinais dos perigos que homens de Deus enfrentam, estamos falando
exatamente sobre o quê? Quais são os sinais que indicam que líderes estão em
perigo? Vou tomar como exemplo Sansão que aparece no livro dos Juízes, à partir
do capítulo 13.
Sinal
número 1:
Líderes em perigo
deixam de enfrentar sinais claros de fraqueza de caráter.
Mike Murdock, certa vez, disse:
Aquilo que você não
domina, lá na frente irá destruí-lo.
Aquilo que Sansão não
conseguiu dominar o destruiu. Dalila cercou Sansão algumas vezes na tentativa
de desvendar o segredo de sua força. O que ele fez? Brincou com a situação.
Todas as vezes que negligenciamos as circunstâncias que oferecem perigo, diminuímos
as proteções pessoais contra a queda. Lembra-se de que falamos sobre a
negligência de Davi? E o que é negligência, senão descuido na execução de algo
e menosprezo?
Sansão menosprezou os
sinais e esses sinais revelaram as falhas do seu caráter. Ele queria o prazer
do risco e menosprezou o bem estar com o Pai. A maior inclinação do seu caráter
pendia para aventuras eróticas e ele não reparou os sinais dessa fraqueza.
Cabe aqui uma nota
sobre o significado de uma palavra que aparece na Bíblia. Sabe o que significa
a palavra tentar? Tentar significa relevar a fraqueza. Quando o Diabo tenta
alguém, ele não toma a pessoa à força e a leva ao pecado, não! Ele revela a
essa pessoa a fraqueza dela. E o Diabo sabe quais são as nossas fraquezas? Sim,
tanto é que ele nos tenta naquilo que temos maior fragilidade. Ele nos cerca
com ofertas atraentes, com cenários deslumbrantes, com circunstâncias
sedutoras. Mas o Senhor, por meio do seu Espírito, pode abrir os nossos olhos
espirituais para discernirmos os sinais e fugirmos da tentação.
Sinal
número 2:
Líderes em perigo
inclinam-se à mentira para preservarem a si mesmos.
Sansão mentiu para
Dalila nas primeiras vezes que ela perguntou sobre a fonte da sua força
espantosa. Ele era o homem de Deus que libertaria o povo judeu da opressão sob
os filisteus, e cercou-se de mentira em vez de cortar o mal pela raiz.
Quando uma pessoa
flerta com o erro, é comum usar a mentira para se proteger. O prazer obtido no
erro está no centro da vontade dessa pessoa e a mentira será usada como escudo
para preservar esse erro que supostamente dará prazer. Isso é uma construção realizada
numa alma inclinada ao pecado. Primeiro pensa o erro, depois deseja o erro, em
seguida planeja como obtê-lo ou realizá-lo e tece uma colcha de retalhos com
mentiras de todo tipo para proteger o seu plano:
— mentiras comerciais
— mentiras
emergenciais
— mentiras
ministeriais.
Há um tempo eu estava
pregando e tive uma experiência com o Espírito Santo. Eu falava sobre justiça,
sobre verdade, sobre transparência, sobre autenticidade, e durante uma pausa
para respirar o Espírito Santo tocou em algo pessoal. Eu falava sobre verdade,
mas ostentava uma mentira em meu braço. Naquele dia eu usava um relógio que era
uma réplica de Rolex. Não era original,
verdadeiro; era uma mentira.
Quando precisamos de
mentiras para construir ou preservar nossa imagem, está caracterizado o sinal
do perigo que um líder corre. Elimine o menor risco antes que ele se torne o
seu maior problema. Eu, por exemplo, se tivesse antecipado ao perigo, não teria
sido confrontado pelo Espírito Santo justamente em meio a uma pregação.
Sinal
número 3:
Líderes em perigo
agem impulsivamente.
O Senhor criou e
estabeleceu princípios para todos os seus filhos.
Um desses princípios é que
devemos ter controle sobre nossos impulsos. Paulo chama isso de “domínio
próprio”:
Mas o fruto do
Espírito é: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade,
amabilidade e domínio próprio. Contra essas coisas não existe lei. (Gálatas
5.22,23)
Tiago em sua carta
fala que dominar o sistema da fala é o melhor modo de exercitar-se para ter
domínio sobre todo o corpo:
Todos tropeçamos em
muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, esse homem é perfeito e capaz de
refrear também seu corpo inteiro. (Tiago 3.2)
Assim, se esses
princípios valem para todo cristão, desde quando ainda são bebês na fé, que
dirá para o líder, que pela vocação deve demonstrar maturidade, experiência e
muitas virtudes que se esperam de pessoas assim? O líder, todos eles, precisam,
inegociavelmente, dominar seus
impulsos. Precisam dominar e controlar o que irão falar, o que irão decidir, o
que irão fazer. Não podem agir mediante o que lhe veem à mente, porque há
coisas na vida de um líder que causam danos irremediáveis.
Veja as consequências do pecado de Davi;
veja as consequências do descuido de
Sansão. Sansão não considerou o plano de Deus para ele, que deveria proteger o
seu povo contra os filisteus.
Sansão permitiu que o impulso sexual dominasse
suas decisões em vez de ele dominar esses impulsos. O líder precisa exercer
domínio próprio sobre o seu corpo, sobre sua mente, sobre suas emoções.
O brasão do Estado de
São Paulo tem um lema muito interessante escrito em latim. Diz assim: Non dvcor dvco, que significa Não
sou conduzido, conduzo. Assim deve ser o líder em relação aos seus impulsos.
Ele não pode ser conduzido, mas deve conduzir o seu homem interior para o
centro da vontade de Deus.
Sinal
número 4:
Líderes em perigo
fazem mal uso dos dons dados por Deus.
Por vezes Sansão usou
os seus dons em brincadeiras para o seu próprio deleite. O que deveria ser
aplicado em benefício público, ele usou para satisfazer sua vida privada.
Líderes responsáveis sabem separar as coisas, seja na política, seja nos
negócios, seja na obra de Deus.
Líderes em perigo
utilizam os dons recebidos na manipulação de pessoas para tirar proveito
pessoal. Deus dá dons aos homens para que sejam usados em favor da Igreja, em
favor do povo, até mesmo em favor dos incrédulos, para que esses cheguem ao
conhecimento da salvação. Infelizmente há quem aplique o seu dom em alguma
atividade cujo retorno nada tem de proveitoso para a coletividade, para os
irmãos.
O Senhor não levanta
gurus nem mágicos evangélicos. O Senhor levanta homens e mulheres de Deus. E
Sansão brincou com o dom que Deus lhe conferiu. Foi uma questão de tempo para
que o espírito de Dalila o derrubasse.
Sinal
número 5:
Líderes em perigo são
derrotados por causa de um ponto fraco.
A consequência comum aos sinais
anteriores é a derrota. Afrouxa aqui, dá liberdades a mais ali, relevam uma
fraqueza acolá e finalmente são derrubados. E a sua ruína é grande. Líderes que
dão liberdade total aos seus pecados terminam consumidos por eles. E devo dizer
uma verdade que constrange a alguns: de todos os líderes, tomando até os que
recebem maior destaque, os mais imitados e dinâmicos, não há um único que seja
bom em tudo; todos nós temos um ponto fraco “de estimação”.
E esse é o sinal para
quem pensa ser forte: descubra o seu ponto fraco, pois você o tem, e vigie-o
incansavelmente, noite e dia.
Quando descobrir – se é que já não saiba –
coloque-o sob a proteção do sangue do Cordeiro, do poder do Espírito Santo e da
Palavra de Deus.
Os olhos são as
portas de entrada para o território da tentação. O Diabo sempre irá apelar para
a concupiscência dos olhos. Com Eva foi assim, com Davi do mesmo modo.
O que determina meus
pensamentos é o que vejo, e o que penso determina as minhas ações. Eu vejo, por
isso penso e assim ajo.
Esse é o motivo pelo
qual vemos, tanto no Antigo como no Novo Testamento, textos orientando os
cristãos em todo o mundo para povoarem seus pensamentos com coisas aprovadas.
Quanto ao mais,
irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo
o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma
virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. (Filipenses 4.8)
Quando cercamos nossa
alma com a blindagem dos bons pensamentos, protegemos nossa integridade contra
as investidas do pecado. E não há alternativa; não insista, não pague para ver;
não creia que você é tão destacado e competente ao ponto de não ser vítima
dessas armadilhas, porque se assim o fizer, será derrotado como muitos foram.
O Senhor é bondoso de
modo como nós não podemos imaginar. Graças a Deus que capacitou a cada um de
nós com dispositivos que percebem a aproximação do perigo. O nosso espírito e a
nossa alma são sensíveis aos sinais que indicam o perigo nos rondando. Quando
permanecemos próximos ao Senhor, por meio de uma vida de oração, de
consagração, despimos as nossas vestes humanas e imundas para recebermos as
armaduras de Deus para a luta espiritual, travada incessantemente em nosso
redor.
Assim, meu conselho é
que você permaneça em alerta, seja vivo! Preste atenção aos sinais e proteja-se
deles, pois a sua alma, a sua vida, a sua reputação, família e ministério valem
muito mais que um raro momento de prazer.
Esse não é o único
conselho que você pode extrair da história. Agora quero permitir que o próprio
Davi dê conselhos à partir da sua experiência. É o que veremos no próximo
capítulo.
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