1.
…e conselhos aos sábios
“Ajuda o teu
semelhante a levantar a carga, mas não a levá-la.” Pitágoras
Davi foi um exímio
escritor.
Escreveu cânticos que são conhecidos por salmos, e foi o autor mais
produtivo neste estilo em todo o Antigo Testamento. Seus salmos têm sido lidos,
cantados, orados e servido de base teológica, servido de inspiração e consolo
para os aflitos da alma.
Os salmos fazem
derramar a alma humana em forma de palavras, frases, expressões. Davi sabia
muito bem lidar com essa ferramenta e sua matéria prima, a própria alma,
atribulada muitas vezes, reflete as questões que incomodam homens há milhares
de anos.
Seria diferente
conosco? De modo algum. Os problemas vividos por Davi são os mesmos vividos por
cada um de nós. Mas devemos prestar atenção a um detalhe que faz diferença:
Davi é conhecido como o “homem segundo o coração de Deus”. Em outras palavras,
embora sejamos todos pecadores, Davi, ainda assim, sempre voltava a sua atenção
para Deus.
O pecado é um
problema humano global, e esquecer-se de Deus é ainda um pecado mais grave.
Davi não! Sua alma inclinou-se para Deus em cada momento dramático de sua vida
e as lições que ele aprendeu foram deixadas nas páginas da Bíblia para
servir-nos de exemplo. Por isso, vejamos quais são os conselhos que Davi nos
daria depois de suas amargas experiências.
Conselho
número 1:
“Não façam como eu.
Tenham cuidado com o seu tempo livre.”
Quando um homem não
sabe usar de forma adequada o tempo livre, o Diabo faz da sua mente uma grande
oficina. Você já deve ter ouvido o conhecido ditado que diz: “Mente vazia,
oficina do Diabo”.
Quando um líder não
sabe usar de forma sábia o tempo livre, a sua mente corre o risco de se tornar
um amplo terreno de Satanás, porque ele é inteligente e esperto para
aproveitar-se do nosso descuido.
Existem dois extremos
perigosos na vida do líder. O primeiro é a ociosidade destrutiva; o segundo é a
exaustão crônica.
Os efeitos da
ociosidade destrutiva nós já vimos na história de Davi, nos capítulos
anteriores. Um líder nessa condição envolve-se em atividades que não são da sua
competência, se intromete em questões alheias. Em outras palavras, “ele mete o
bico onde não foi chamado” e passarinho que põe o bico em ninho estranho tem
que dar comida a filhote que não gerou.
Por outro lado, um
homem cronicamente exausto se torna presa fácil de seus hormônios. E não nos
esqueçamos: ainda que sejamos espiritualmente maduros, os nossos hormônios não
são convertidos… e podem nos trair.
Portanto, organize-se
para aproveitar bem cada minuto de sua agenda. E muito cuidado com o tempo
livre.
Conselho
número 2:
“Enquanto espera ou
descansa, ocupe-se com o que é construtivo e que faz você crescer.”
A diversão, o
repouso, o lazer devem estar na agenda de todo líder. Ninguém é de ferro. Todos
nós precisamos de tempo com qualidade para a família, para o lazer e para nós
mesmos, individualmente.
O modo como iremos
preencher esse tempo poderá determinar o bom aproveitamento dele ou a nossa
própria degola. Enquanto você descansa ou se diverte com a família num dia
qualquer, não permita que o Diabo faça da sua mente um laboratório para testes
nucleares, colocando “pensamentos explosivos”, “bombásticos”.
Tome como exemplo
Paulo. Como foi que Paulo ocupou o seu tempo quando esteve preso? Aparentemente
teve uma tremenda oportunidade para viver ociosidade destrutiva. Por que,
então, Paulo não se corrompeu? Por que não se perdeu em pensamentos vagos?
Paulo se manteve aparentemente ocioso por dois anos, quando esteve preso. O que
ele fez para “manter a linha”?
Ele foi capaz de
ocupar-se com aquilo que era construtivo e fazia o seu espírito crescer e se
fortalecer. Ele leu. Ele escreveu. Ele aconselhou. Ele cuidou das igrejas
enviando cartas. Ele orou. E repetiu todas essas atividades durante todo o
tempo.
Na carta que escreveu
a Filemon ele disse: “Vocês
pensam que eu estava lá, vivendo ociosamente? Destrutivamente? Não. Eu gerei
Onésimo nas minhas algemas”. Isto é uma paráfrase minha, mas você pode conferir
o texto original em Filemom 1.10.
Gente que se ocupa
dessa maneira glorifica a Deus e guarda o seu coração contra o mal que tão de
perto nos rodeia.
Um caso extraconjugal
pode começar em míseros dez dias de férias na praia.
Um caso extraconjugal
pode começar num churrasco trivial em final de semana.
Um caso extraconjugal
pode começar em congresso de espiritualidade!
Seria muita
ingenuidade pensar que o Diabo está cochilando na rede enquanto os cristãos
cuidam das coisas do Senhor. Por que Jesus diria: “Vigia a tua alma”? Porque
ela é o alvo predileto dos ataques que recebemos.
Todas as manhãs faça
uma vistoria dentro de você, em seus pensamentos, nos seus planos, naquilo que
tem ocupado a sua mente, e identifique se algo destrutivo tem se desenvolvido
em sua alma, nos corredores do seu coração, durante os momentos ociosos que a
sua imaginação elabora.
Conselho
número 3:
“Cuidado com o poder
destruidor de uma paixão proibida.”
Leia o que veio
escrito em bilhete:
“Você estava lindo
com aquele terno ontem, meu pastor.”
Este elogio não foi
escrito por minha esposa e entregue a mim.
Essa frase, esse
elogio, é uma semente. Concorda? Dependendo do solo onde ela é semeada, poderá
dar frutos. Uma semente pode ser lançada por email, como “Seu perfume ontem
estava irresistível, minha irmã.” Ou ainda por meio de mensagem via celular.
Expressões de
admiração, apreciação e elogio não trazem em si quaisquer problemas. Que mal
pode haver em dizer elogios a alguém bem vestido? É a expressão da verdade. Que
mal pode haver em comentar o aroma agradável de um perfume? É a expressão da
verdade. Mas palavras embutem valores e significados em diferentes contextos,
em diferentes situações por diferentes pessoas. E essas situações são
delineadas pela condição que o ouvinte e o falante se encontram. Mais que isso:
é preciso considerar a presença e atuação do Diabo sobre essas mesmas situações
e ocorrências. O mundo tem seu componente espiritual e oculto, e não seríamos
suficientemente ingênuos em não contar com isso.
No momento parece
apenas uma frase despretensiosa, sem maldade, mas o Diabo faz dela uma semente
maligna e a planta na terra das nossas imaginações inclinadas para a queda.
E o Senhor viu que a
maldade do homem na terra era grande e que toda a imaginação dos pensamentos de
seu coração era continuamente má. (Gênesis 6.5)
Quando Davi
relacionou-se sexualmente com a mulher avistada a partir da janela de seu
palácio, ela engravidou. Quando soube a novidade, ela mandou avisar a Davi que
estava grávida, esperando, talvez, uma providência amistosa em seu favor. Não
sabemos ao certo que reação ela procurou causar com a informação, mas sabemos a
reação de Davi quando soube que seu caso secreto traria uma criança ao mundo.
E aqui eu chamo a
atenção para o que ocorre ao homem dominado por paixão proibida. Parece não
haver limites. Ele ficou desequilibrado ao saber do filho fora do casamento e
imediatamente foi dominado por imaginação demoníaca. O rei mandou trazer Urias,
o heteu, que lutava na
guerra, a mesma guerra que Davi deveria estar presente. Urias era o marido
legítimo da mulher. Davi serviu vinho a ele e lhe deu uma noite de folga,
imaginando que ele teria relações com a esposa e, com isso, a paternidade do
filho bastardo pudesse ser atribuída a ele.
Mas Urias não foi
para casa, não deitou e não se relacionou com a esposa. Nos tempos de guerra, a
agenda de Urias tem os dias comprometidos com o dever de soldado. Ele pensou
nos seus irmãos e não se viu envolvido em prazeres pessoais enquanto os soldados
do seu exército estivessem matando e morrendo. Dispensado por Davi, Urias não
só não foi para casa, como sequer saiu do palácio. Dormiu à porta do rei.
De seu lado, Davi
afundou-se mais e mais na perversidade oculta em seu coração. Ele, então,
planejou eliminar Urias. Escreveu um bilhete e enviou a Joabe, comandante do seu
exército:
Posicionai Urias na
linha de frente, onde a batalha for mais feroz, e deixai-o sozinho para que
seja ferido e morra. (2Samuel 11.15)
Você sabe a história.
A carta foi enviada para Joabe e o portador foi o
próprio Urias, o sentenciado de morte pelo rei. Foi muita maldade. Eu não estou
falando de qualquer homem; estou falando de Davi. Há pouco escrevi que ele é
conhecido como “homem segundo – ou conforme – o coração de Deus”. Quem você conhece
com o mesmo adjetivo?
Se isso aconteceu a
Davi, poderá acontecer conosco? Estamos protegidos contra cenas como essas?
Adultério, homicídio? O coração do homem é uma caixa de surpresas.
Davi tinha cinquenta anos de idade, homem
maduro, vivia o melhor momento de sua vida, no reino, no campo de batalha, na
vida espiritual. Havia conquistado mais que os seus sonhos jamais conceberam.
Mas ocupou mal o seu tempo e envolveu-se numa paixão que não era da sua conta.
Qual é o momento do
seu ministério? Como está a sua guarda? Você tem vigiando a alma?
O melhor momento para
vencer a tentação é no início e usando toda a força disponível. Não pense que
maturidade é garantia de livramento. Não pense que por estar há muito tem pó na
Igreja, você está isento às tentações. Tempo de casa só é bom para quem tem
Fundo de Garantia a receber. E há gente com muito tempo de casa sendo mandado
embora por justa causa porque caiu prostrado diante de uma paixão proibida.
Conselho
número 4:
“Nunca tente resolver
um problema por vias erradas. Você criará maiores problemas.”
Quero ser mais
incisivo neste ponto.
Davi tinha um
problema grave e tentou resolvê-lo criando problema ainda maior. Mandar matar o
companheiro inocente não foi a decisão certa. Vemos cenário parecido em Gênesis
capítulo 4, que fala de Caim levando Abel ao campo para assassiná-lo (v. 8).
Caim derramou sangue inocente na terra. E mais para frente a Palavra diz:
Quando cultivares a
terra, ela não te dará mais sua força; serás fugitivo e vagarás pela terra.
(Gênesis 4.12)
Deus não se referia a
terra em sentido literal. Ele falava da vida, do coração, do ministério e até
mesmo do relacionamento com o seu semelhante. Quem assassina companheiros não
consegue extrair o melhor fruto do seu trabalho. O vigor do seu esforço é fraco
se comparado ao que poderia ser se promovesse vida em vez de morte.
Eu digo isso, porque
há líderes promovendo morte em seu ministério. Disputas internas (e externas)
por poder, por influência, por alianças derramam sangue que enfraquece e inibe
o crescimento e a prosperidade. O dia que lançarem sementes, essa terra não produzirá
porque foi regada com sangue e Deus não tem compromisso de prosperidade na
terra de quem derrama sangue inocente: refiro-me ao ministério.
T. D. Jakes fez uma afirmação
que guardo para o resto da vida:
Se não gostas do que
estás colhendo, olha para trás e veja o que foi plantado.
Davi semeou dois
tipos de sementes malignas: a do adultério e a do homicídio. Qual foi a sua
colheita? Basta olhar 2Samuel 13. Amnon, filho de Davi, apaixonou-se por Tamar, sua irmã, e a
estuprou: a colheita foi um incesto em sua própria casa. Absalão, outro filho de
Davi, se revoltou com a indiferença do pai ao tratar o problema, e assassinou Amnon. Se você seguir
lendo a Bíblia verá no capítulo 15 do mesmo livro que o próprio Absalão rebelou-se
politicamente contra Davi e foi morto por Joabe.
É preciso levar a
sério essa infalível lei da semeadura no exercício da liderança. Não tente
resolver problemas, pequenos ou grandes, acrescentando mais problemas à
situação. Procure o caminho certo e tome as medidas certas para que as coisas
se encaminhem favoravelmente. Acabe de uma vez por todas com arremedos, com
“jeitinhos”, com acobertamento de pecados e com o acréscimo de pecado sobre
pecado. Rompa de uma vez por todas com o ciclo que destrói e mata em vez de
promover edificação e vida!
Lembro-me de um irmão
que foi ordenado ao diaconato. Ele trabalhou seis meses nessa função e de
repente precisou de dinheiro. Alguém o aconselhou a processar a igreja
reivindicando R$ 20.000,00 de indenização pelos serviços de diácono.
O pastor líder foi
até ele e pediu que não levasse o caso adiante, explicando que a igreja tinha
pouquíssimos recursos. O diácono não deu ouvidos ao antigo líder.
Depois de muita
negociação, a igreja conseguiu acordo para pagar 20 prestações de R$ 350,00.
Agora veja a colheita
real que o diácono levou “de brinde”, porque com o dinheiro “da oferta da
viúva” não se brinca. O irmão começou a receber todo mês a quantia combinada.
De repente a esposa foi diagnosticada com câncer. Chamaram o pastor líder para
orar, e ele disse: “Eu não coloco a minha mão onde Deus colocou a mão dele para
tratamento.”
Passou dois meses e a
filha foi estuprada. Passaram alguns meses, ele perdeu a razão e ficou louco,
sendo internado em hospital psiquiátrico. A família daquele homem foi dizimada.
A esposa morreu de
câncer, ele foi para um hospital de loucos e a filha carregou o trauma de um
estupro. A família acabou tal qual a de Davi.
O que o profeta Natã
disse o rei?
Pois tu o fizeste em
segredo, mas eu farei o que disse perante todo o Israel e à luz do dia. Então
Davi disse a Natã: Pequei contra o SENHOR. Natã respondeu a Davi: Também o
Senhor perdoou o teu pecado, por isso, não morrerás. (2Samuel 12.12,13).
Em outras palavras, a
graça de Deus não cancela a colheita feita por ninguém, nem mesmo do homem
segundo o coração de Deus. A graça de Deus preserva o plantio e todos nós
colhemos o fruto segundo a semente que lançamos na terra, seja essa terra o
nosso ministério, seja a nossa família, seja aonde for.
Conselho
número 5:
“Nunca tente esconder
do cônjuge aquilo que está diante dos olhos do Senhor.”
Devo supor que cada
cristão esteja consciente de que Deus vê tudo.
Os olhos do Senhor
estão em todo lugar, vigiando os maus e os bons. (Provérbios 15.3).
A tentativa de Davi
de esconder o seu pecado foi bastante inocente. O pecado cheira mal diante de
Deus e esse mal cheiro não pode persistir: Deus recorreu ao seu profeta. Sabe
quando Deus levanta profetas? Quando o sacerdote não ensina o povo e quando o rei
não é reto diante de Deus. O recurso do Pai para não ficar sem testemunho na
terra é o profeta. Então Deus revelou o caso a Natã.
Mas ainda temos a
cena do crime preservada, e Davi pensa que pode pagar dívida de pecado com
cartão de crédito de boas obras. Não pode. Esse é o pensamento típico das
armadilhas do poder. Em nossos dias há líderes repetindo o erro, racionalizando
o próprio pecado. Eles dizem: “Eu já jejuei muito, eu já preguei muito, eu já
ganhei muitas almas para Deus e, portanto, tenho crédito lá em cima para dar
uma ‘pecadinha’.”
Nem mesmo Davi, o
homem segundo o coração de Deus, teve crédito para encobrir o seu pecado. O
pecado, qualquer que seja, dá legalidade a Satanás e afasta você de Deus.
“Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3.23), é o que
ensinou o apóstolo Paulo. E quanto a Davi, a Bíblia é explícita:
Mas, visto que com
esse ato deste motivo para que os inimigos do Senhor blasfemassem, o filho que
te nasceu certamente morrerá. (2Samuel 12.14).
Enumerei os erros de
Davi. Mas a situação não aponta os canhões somente para o seu lado.
Bate-Seba também tem parcela
de culpa e ensina sobre as intensões da alma humana, especialmente a feminina. Vocês acham
que Bate-Seba era inocente? Não
era. Todo pecado – e no caso o pecado de adultério – é um processo que envolve
dois lados.
Em primeiro lugar,
não creio que tudo tenha acontecido em um dia. O caso era muito sério,
tratava-se de Davi, o grande herói do povo, o rei exemplar ungido de Deus! E um
dia não é suficiente para um envolvimento tão intenso como esse. Um dia não é
suficiente para cegar o homem desse jeito.
E aí eu pergunto: –
Por que ela tomava banho em lugar onde podia ser observada pelo rei? Ela não
tinha outro lugar para fazer isso? Você já deve ter feito essa pergunta. E vale
uma advertência séria para as mulheres, especialmente as que estão em posição
de destaque, à frente de algum trabalho ou de algum grupo: – A maneira como
você se veste revela a intenção do teu coração e as tendências da tua alma.
Veja o que temos em
Provérbios 7.6-23:
Porque da janela da
minha casa, por minhas grades, olhando eu, vi entre os simples, descobri entre
os jovens um que era carente de juízo, que ia e vinha pela rua junto à esquina
da mulher estranha e seguia o caminho da sua casa, à tarde do dia, no crepúsculo,
na escuridão da noite, nas trevas. Eis que a mulher lhe sai ao encontro, com
vestes de prostituta e astuta de coração. É apaixonada e inquieta, cujos pés
não param em casa; ora está nas ruas, ora, nas praças, espreitando por todos os
cantos.
Aproximou-se dele, e o beijou, e de cara impudente [sem juízo, sem
vergonha] lhe disse: Sacrifícios pacíficos tinha eu de oferecer [era crente,
cultuava]; paguei hoje os meus votos. Por isso, saí ao teu encontro a
procurar-te, e te achei. Já cobri de colchas a minha cama, de linho fino do
Egito, de várias cores; já perfumei o meu leito com mirra, aloés e cinamomo.
Vem, embriaguemo-nos com as delícias do amor, pela manhã; gozemos amores.
Porque o meu marido não está em casa [era casada, ela tinha em casa um Urias],
saiu de viagem para longe. Levou consigo um saquitel de dinheiro; por volta da
lua cheia ele tornará para casa. Seduziu-o com as suas muitas palavras, com as
lisonjas dos seus lábios o arrastou. E ele num instante a segue, como o boi que
vai ao matadouro; como o cervo que corre para a rede, até que a flecha lhe
atravesse o coração; como a ave que se apressa para o laço, sem saber que isto
lhe custará a vida”. (acréscimos feitos por mim)
Minha irmã e meu
irmão: saiba que esse texto quebra laços neste exato momento. Esse texto é
muito forte e revelador, alcança o ponto mais íntimo da nossa alma e desfaz a
obra do Diabo. Cabe a cada um de nós, agora, vigiar sobre os lugares que frequentamos, a posição para onde
nos deslocamos, o lugar onde nos sentamos e mais, a impressão que a maneira de
nos vestir irá causar. Seja consciente na hora de escolher o seu estilo e pense
sobre a mensagem que o seu estilo irá transmitir.
Bem, já vimos os
erros de Davi e também os de Bate-Seba. Agora vamos nos deter um tempo nos erros cometidos por
Urias. Esta passagem também nos ensina muito, especialmente aos maridos.
Então Davi mandou
dizer a Joabe: Traze-me Urias, o heteu. E Joabe o enviou a Davi.
Urias veio a Davi, este lhe perguntou como estavam Joabe e o exército e como
ia a guerra. Depois Davi disse a Urias: Vai para a tua casa e procura
descansar. E, assim que Urias saiu do palácio real, foi-lhe mandado um presente
do rei. Mas Urias dormiu à porta do palácio real, com todos os servos do seu
senhor, e não foi para casa. Então contaram a Davi: Urias não foi para casa. E
Davi perguntou a Urias: Não chegaste de uma viagem? Por que não foste para
casa? Urias respondeu a Davi: A arca, as tropas de Israel e de Judá estão em
tendas; Joabe, meu senhor, e os
servos de meu senhor estão acampados ao relento. Como eu iria para casa comer e
beber e me deitar com minha mulher? Por tua vida e por tua honra, não farei
isso. Então Davi disse a Urias: Fica ainda hoje aqui, e amanhã te despedirei. Assim,
Urias ficou em Jerusalém aquele dia e o seguinte. Davi o convidou a comer e a
beber com ele e o embebedou; e à tarde Urias saiu e foi deitar-se na sua maca,
onde estavam os servos de seu senhor, mas não foi para a sua casa (2Samuel
11.6-13).
A intensão de Davi ao mandar
Urias para casa era maligna, mas o princípio que Urias deveria ter preservado
era legítimo. Ele estava há quarenta dias na guerra, portanto, fora de casa.
Chegando à cidade, deveria ir para a sua casa encontrar-se com sua esposa. No
entanto o versículo 9 diz que ele “não desceu para sua casa”. E alegou
fidelidade aos companheiros na guerra e a presença da arca no arraial dos
soldados.
Urias não foi para
casa. É interessante notar como ele está preocupado com a arca, com Israel, com
Joabe, com os amigos de
trabalho e em momento algum ele menciona a sua mulher e os filhos, se é que os
tinha. Ele estava preocupado com a arca, ele estava preocupado com o chefe Joabe, ele estava
preocupado com a nação inteira, com os companheiros de trabalho, mas em nenhum
momento ele se mostra preocupado com sua esposa, com sua família, com sua vida
pessoal que era igualmente importante.
Há coisas em nossas
vidas que não podem concorrer entre si. Ministério não pode concorrer com
casamento. Se não há tempo suficiente para uma atividade importante, diminua o
tempo gasto com outra atividade para a qual você se dedica mais. Uma atividade
está roubando tempo da outra; há desequilíbrio.
Francamente, é
preciso saber separar as coisas. Admiramos que um homem seja fiel ao Senhor,
submisso ao seu líder e solidário aos parceiros do ministério. Esperamos ter
milhares de homens assim ao nosso lado. No entanto, há uma ordem estabelecida
na economia de Deus. E essa ordem precisa ser preservada para que todas as
demais áreas de nossas vidas prosperem equilibradamente, sendo igualmente
preservadas. A ordem estabelecida por Deus é:
1º Deus, o Pai, o
Filho e o Espírito Santo
2º A nossa esposa e,
se tivermos filhos, a nossa família
3º O nosso trabalho,
que provê sustendo para a nossa família e gera recursos para a próxima
prioridade que é
4º A obra de Deus.
Essa é a ordem ideal
para que as coisas funcionem sem sobressaltos. Inverta essa ordem e espere
problemas, certamente. E foi isso o que Urias fez: inverteu a ordem
estabelecida para o bom funcionamento das coisas. Qual foi a colheita que ele
precisou amargar? Uma traição – porque não supriu a necessidade conjugal da sua
esposa – e a própria morte – por alterar a ordem estabelecida.
Urias “criou” uma
nova categoria – a sua religiosidade ritual (“a arca”) – e a pôs no lugar de
Deus, que deve ser mantido no primeiro lugar. E depois inverteu o terceiro
lugar (o trabalho), colocando-o no lugar da família. Os valores de Urias
estavam desequilibrados, desalinhados dos valores de Deus. E quando os nossos
valores não são os valores de Deus, quando conduzimos nossas vidas pela força
da natureza humana e carnal, cometemos pecado. Como o pecado tem um salário já
acertado – a morte – Urias recebeu a paga por sua inversão de valores. (Ele foi
injustamente assassinado! Ele sofreu pelo pecado de outro, embora não estivesse
com suas prioridades alinhadas. Não concordo com esta frase) – Minha sugestão:
“Urias foi ferido
injustamente pelo pecado de outro, do rei Davi e a brecha para que este golpe o
atingisse foi sua inversão de valores”
Vamos imaginar que
Urias fosse para casa e tivesse relações com sua esposa. A ele seria atribuída
a paternidade do filho, e talvez ele viesse a descobrir a traição, supondo
também que Bate-Seba não suportasse
conviver com a mentira e ocultação daquela traição e depois de um tempo
contasse a Urias a sua aventura sexual extra-conjugal. Eles poderiam discutir
severamente, mas no fim ele consideraria rever seus valores, suas prioridades e
passassem a uma nova fase no seu casamento. Crentes no Senhor precisam aprender
a conviver com o perdão, pois nem mesmo a infidelidade deve ser usada como
razão para separação se houver disposição para o perdão. Deus é poderoso para
curar feridas e fazer novas todas as coisas.
Urias permaneceria
vivo, corrigiria o seu comportamento desequilibrado e poderiam ser felizes
novamente. O perdão que cabe a homens de fé está implícito nesse quadro que
pintei. Veja como tudo seria diferente se Urias colocasse as coisas nos devidos
lugares.
Sabe qual é o nosso
problema? Superestimamos o nosso valor. Pensamos que o nosso valor individual é
maior que o nosso valor coletivo. Pensamos que aquilo que fazemos sozinhos vale
mais que o que fazemos no grupo: no ministério, na família, na comunidade.
Imaginamos (erradamente) que as coisas simples da vida têm menos valor que
aquelas que aparecem mais aos olhos dos outros, que dão mais status.
Não despreze os dias
das coisas pequenas. (Zacarias 4.10)
A vida de cada um de
nós é formada por atividades diferentes com valores e pesos diversos. Por isso,
precisamos desvendar o valor que cabe a cada uma das nossas atividades e fazer
o investimento adequado para que haja equilíbrio em toda a nossa vida.
A Deus, a parte que
cabe a Deus. A família, a parte que cabe à família. E assim com tudo o que nos
envolve, sem desprezar as atividades aparentemente simples que contribuem para
fazer de nós quem somos.
Quero finalizar este
capítulo chamando a sua atenção para o principal valor na vida de um líder: a
vida. Quando se trata de vidas, todos devemos nos submeter a ela. Seja quem
for, ocupe o cargo que ocupar, não importam as credenciais: a vida está em primeiro
lugar.
Joabe errou. Ele
associou-se a Davi para a morte de um homem. Joabe não sabia a circunstância do pecado nem as motivações
do rei para desejar a morte de Urias; isto somente agrava a culpa de Joabe, porque ele não
questionou as razões pelas quais deveria criar uma estratégia que resultasse na
morte de uma de seus soldados.
Joabe cumpriu ordem
absurda, sem questionar. Não é porque a patente de Joabe era inferior a do
rei que ele deveria obediência à ordem estúpida. Há vida em jogo e os
interesses da vida estão acima de qualquer patente, de qualquer posição ou
cargo.
A submissão não é
incondicional diante da preservação da vida. Se fosse, Misael, Ananias e Azarias
teriam se prostrado diante da estátua do rei Nabucodonosor na Babilônia. Se
fosse, a mãe de Moisés teria abortado (lançado ao rio?) o filho Moisés em
obediência à ordem do faraó.
Quando a vida corre
risco, opte pela vida em detrimento da obediência cega e incondicional. E nós,
líderes, lidamos e lideramos vidas o tempo todo: a ela devemos nossa submissão,
pois esse foi o exemplo deixado pelo Senhor Jesus, que desejando que tivéssemos
vida, esvaziou-se a si mesmo e “não considerou o fato de ser igual a Deus algo
a que devesse se apegar” (Filipenses 2.6).
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