2. O que devemos aprender?
“O sábio nunca diz
tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo o que diz.” Aristóteles
No capítulo anterior
vimos como a experiência – amarga – de Davi pode fornecer conselhos para cada
um de nós, líderes. Todos eles foram extraídos do próprio relato bíblico e são
orientações tiradas da vida real daquele que foi o maior rei de Israel.
Neste capítulo vamos
apresentar duas medidas a serem tomadas criteriosamente, com a finalidade de
cercar a nossa alma dos laços que insistem em apanhar de surpresa. A bem da
verdade, o pecado é o mesmo desde o Éden, concorda? Eva foi tentada quando a
serpente distorceu a verdade de Deus e fez a mulher imaginar uma situação
“agradável aos olhos e desejável” (Gênesis 3.6). Ao longo dos séculos e
milênios o Diabo insiste nessa estratégia, simplesmente “atualizando” o seu
argumento; mas o modelo é o mesmo. E o que é pior: muita gente ainda cai na sua
conversa.
Então, a pergunta a
ser respondida neste ponto é: Como vencer a tentação de pecar
quebrando uma aliança?
Se os nossos olhos
estão vendo cenas agradáveis, se estamos sendo atraídos por paisagens
encantadores, mas enganosas, é preciso levantar muros de proteção para que não
aconteça conosco o que aconteceu com Davi, com Bate-Seba, com Urias e mesmo com Joabe. Mas como fazer isso?
Minhas
sugestões
Sugestão
número 1: Tenha um mentor com o perfil de Natã.
Nos dias de Davi
havia um profeta, que frequentava o palácio do rei, e
o seu nome era Natã. Falamos pouco a seu respeito em nosso livro.
Natã soube dos crimes
cometidos por Davi porque o Senhor revelou a ele. É o cuidado de Deus com
aqueles que são seus. Natã, então, foi ao palácio e entrou à presença de Davi,
o que nos ensina que o rei o tinha como conselheiro. Nenhum líder deve imaginar
que seu sucesso decorre exclusivamente da sua capacidade. A porta do gabinete
de um líder deve permanecer aberta para os seus colaboradores; eles devem ter
livre acesso a nós.
Na presença do rei,
Natã contou uma parábola e Davi se indignou com ela. Veja a história:
O Senhor enviou Natã
a Davi. Quando ele chegou, disse a Davi: Numa cidade havia dois homens, um rico
e outro pobre. O rico tinha rebanhos e manadas em grande número; mas o pobre
não tinha coisa alguma, senão uma pequena cordeira que comprara e criara; ela
crescera com ele e com seus filhos; comia da sua porção, bebia do seu copo e
dormia em seus braços; e ele a considerava como filha. Certa vez, um viajante
chegou à casa do rico; mas ele não quis pegar uma ovelha sua ou um boi seu para
dar de comer ao viajante que o visitava, assim tomou a cordeira do pobre e a
preparou para o seu hóspede. (2Samuel 12.1-4)
Ao ouvir a parábola
Davi ficou indignado. Disse que o homem que fez aquilo deveria ser morto! Natã,
então, olhou nos olhos do rei e disse: “Esse homem és tu” (v. 7).
Qual a finalidade
dessa ocorrência? Por que o Senhor revelou os segredos do rei e enviou o
profeta para falar com Davi? Isso se chama cuidado, zelo, que irão resultar em
restauração.
Mas é preciso que
nós, líderes, tenhamos pessoas que nos possam confrontar. Quem do seu
relacionamento tem liberdade de acesso para confrontá-lo? Quem do seu
relacionamento pode fazer perguntas a você com liberdade? Quem é o seu mentor?
O sucesso eleva
qualquer pessoa a um patamar de isolamento perigosíssimo. E no isolamento, a
natureza humana pecaminosa, inclusive a nossa, de cristãos, pode “revirar-se no
caixão” e querer sair. A história da humanidade e a própria história da Igreja
tem casos e mais casos de pessoas que perderam a direção certa porque se
deixaram levar pela autonomia, pela autossuficiência. Igreja só é igreja na comunhão dos irmãos. Ninguém é
igreja sozinho. Você e eu temos o Espírito Santo habitando-nos, isso é certo e
bíblico. Mas para sermos parte da Igreja precisamos ter comunhão uns com os
outros. O isolamento é maligno.
Para concluir o plano
da salvação da humanidade, Jesus precisava ir à Jerusalém a fim de morrer por
nossos pecados. Pedro desconsiderou o aspecto social dessa obra, o aspecto
comunitário universal e, pensando com a própria cabeça, disse a Jesus que não fosse
àquela cidade. Tentou isolar Jesus. Qual foi a resposta do mestre: “Para trás
de mim, Satanás, que não cogitas [não pensas] as coisas de Deus”.
O isolamento é
maligno.
Por isso, cerque-se
de pessoas de Deus, com visão espiritual aguçada e que tenham liberdade e
sensatez para contribuir com você em todos os momentos da sua vida, seja na
carreira pessoal no ministério, seja no trabalho secular se você o tem, seja
nos novos projetos e até mesmo em decisões pessoais.
Quem é que confronta
você, dizendo: “Esse não é o caminho de Deus para a sua vida. Afasta-te daí.
Onde está a sua cabeça?”.
Amigo é quem não tem
medo de confrontá-lo quando você está em caminhos de morte. Esse é seu amigo.
Você tem gente assim ao seu lado?
Conta a história que
um grande pintor trabalhava na execução de um pintura maravilhosa. Era um
painel alto e ele trabalhava em cima do andaime. Um mês todo pintando a grande
obra.
Quando o painel ficou
pronto ele ficou embriagado com a beleza do quadro. A fim de contemplá-lo,
afastou-se um pouco da imagem, ainda em cima do andaime. O amigo que estava
embaixo, percebendo que o pintor cairia caso desse mais um passo para trás,
tomou uma brocha que estava no chão dentro de uma lata de tinta e atirou-a no
quadro, estragando a pintura.
O pintor irritado deu
um pulo para frente e esbravejou: “Você ficou louco? Um mês inteiro de trabalho
e você destruiu tudo!” E o amigo respondeu: “Eu destruí o seu quadro, mas
salvei a sua vida”.
É a vida que
precisamos preservar a qualquer custo, não o quadro.
Se o quadro que você
está pintando para o seu ministério, para a sua família e para você mesmo o
leva em direção à morte, é preciso destruir o quadro e preservar a vida.
A contemplação da
obra pode distraí-lo do perigo na vida real. A obra é maravilhosa, mas a vida é
espetacular. Prefira sempre a vida.
Como são sedutoras
muitas carreiras diante de nós. Mas não hesite em ter por perto pessoas
dispostas a desfazer a sedução para salvar a nossa vida. Se você não tem essa
pessoa, ore e peça a Deus, que dará a você um Natã. Deus levantará um mentor à
altura para estar ao seu lado; um mentor com coragem de estragar o seu quadro e
resgatar a sua vida.
E esta é a minha
oração:
Senhor, para cada um
de nós, dá um Natã neste dia. Para cada um de nós, dá um Natã que chegue a
tempo, antes que o pior aconteça.
Erga esse muro de
proteção em torno da sua vida e mantenha alto o nível de resistência por meio
da disciplina, da oração e da Palavra. E pratique essas coisas, aplique-se
nelas de fato, pois o Diabo não respeita quem fala de oração: o Diabo respeita
quem de fato ora.
Viva de acordo com um
código de integridade.
Sugestão
número 2: Desenvolva um código de integridade
Você tem um código de
integridade? Se tem, então viva de acordo com ele.
O desenvolvimento de
um código de integridade começa quando você se compromete com linhas mestras
auto-impostas que lhe dão a sensação de controle moral sobre a própria vida.
Esse esforço imprime e reforça a sua vontade pessoal ou seu modo de reagir quando
as tentações surgirem.
Que tipos de linhas
mestras podem ser cultivadas e auto-impostas?
Um exemplo é a
criação de uma aliança com um companheiro de oração. Certa vez o pastor Jocimar Fonseca ligou para
mim e disse:
“Estava no monte
orando, o seu nome veio à minha mente e eu orei por você. Como está você? Como
está a sua casa? E a sua família? Como vão as coisas no seu ministério? E o seu
coração?”
E respondi a ele o
seguinte:
“Já que você ligou
pra mim, vamos fazer uma aliança? Vamos fazer uma parceria de oração?”.
Eu orei por ele, e
ele fez uma bonita oração em meu favor. Selamos uma aliança de oração mútua.
Você precisa de um
parceiro com o qual tenha uma aliança de oração, porque a oração é uma das
principais linhas mestras da vida de todo homem e mulher de Deus.
Mas não é a única. Se
você procura um código de integridade para seguir e pautar a sua vida eu sugiro
que leia nos evangelhos, no evangelho de Mateus, por exemplo, o Sermão do
Monte. Lá há várias cláusulas fundamentais que podem ser usadas para compor o seu
código. O Sermão do Monte é um baú com tesouros que podem enriquecer a sua vida
e a sua experiência com Deus. Use à vontade, retire de lá o que precisar. Não é
a única fonte de riquezas para a nossa vida, evidentemente. Há outras porções
das Escrituras de onde você pode retirar direcionamento seguro e saudável para
a sua alma.
E não se esqueça:
envolva pessoas no seu código. O isolamento é maligno e não ajudará você em
nada. Às vezes nos encontramos com amigos, parceiros no ministério, e só
falamos em projetos, planos, estratégias, dificuldades de avançar na obra e
sobre tantas outras coisas. No entanto, nos esquecemos de perguntar: — Como vai
a alma? Como vai o coração? Como vai o ministério? Como vai a chama dentro do
teu peito? Ela está acesa?
Conclusão
“O único lugar aonde
o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.” Albert Einstein
Permitindo que o
Sermão da Montanha aconselhasse o rei Davi, aprendemos que há uma necessidade
premente de vigilância concentrada, organizada e comunitária. Um caráter
consistente forma a base sobre a qual o serviço deve ser executado. Quanto mais
talentoso, quanto mais famoso, melhor e mais firme deve ser a fundação do
caráter. Em uma batalha, mais importante do que derrubar muitos inimigos, é
permanecer forte para não dar trabalho aos companheiros e ainda continuar a
combater.
Portanto, vigie e proteja-se. O Rei Davi, valente, famoso, querido de
Deus, ungido, músico, salmista e amigo de Deus deixou de vigiar enquanto tirava
seu tempo de lazer.
Ele pecou
grosseiramente, tentou consertar um erro com outro pior ainda e, mesmo sendo
amigo de Deus (ou talvez, justamente por ser) colheu o fruto amargo do seu
erro, trazendo sofrimento sobre sua família e seu reinado, que nunca mais foram
os mesmos, depois da sua queda.
Para evitar tal
desvio, você precisa vigiar, sondar, buscar e ficar muito atento ao que se
passa na sua mente, nos seus pensamentos, tendo atenção dobrada para os
momentos mais críticos de lazer e descanso, quando a tentação pode vir com mais
força.
Todo bom sentinela
sabe que há sinais que apontam para a presença ou chegada do inimigo, portanto,
você precisa ficar ligado. Enfrente suas fraquezas de caráter com seriedade,
nunca faça uso da mentira, fique atento às ações impulsivas e saiba que quando
você usa os dons dados por Deus para proveito próprio, você corre um sério
perigo.
Atenção
para os sinais:
• Negligência com
suas tarefas mais essenciais,
• Brincadeira com o
pecado, patrocinadas pela autossuficiência soberba e enganosa.
• Falta de controle
em pequenas atitudes, que apontam para um descontrole maior.
• Mentira, que passa
a se apresentar, sempre que é necessário inventar uma desculpa para patrocinar
o comportamento de risco, ou o pecado em si.
Diante deste
diagnóstico, que aponta para a necessidade urgente da vigilância, aceite os
conselhos para os candidatos a sabedoria. Você precisa descobrir o seu ponto
fraco e vigiá-lo incansavelmente, ainda que precise da ajuda de um amigo, do
cônjuge ou do seu tutor (talvez você precise dos três).
Não caia na armadilha
dos extremos de ficar à toa, ocioso e se defrontar com o pecado e nem fique tão
cansado ao ponto de perder o ânimo e a vontade de viver. Um extremo é o de se
permitir e agradar a carne; o outro é levar a si mesmo para desfalecer sem
descanso. Ambos devem ser evitados a qualquer custo.
Como o descanso é tão
importante quanto o trabalho, descanse de tal maneira que você ainda seja
edificado. Descubra o prazer em atividades nobres e elevadas. Se você perceber
sentimentos muito intensos voltados a determinada tarefa ou pessoa, fique alarmado,
pois pode ser uma paixão destrutiva e proibida. Fuja da fonte de tais
sentimentos. Fuja mesmo, nada de achar que é forte. Se já está envolvido, de
alguma forma, resolva pelas vias corretas da verdade e confissão, nunca
acrescentando mais problemas ainda. Seja firme, confesse e enfrente as consequências enquanto a situação
não ficou pior. Deus vai perdoar e quanto antes voltar atrás, menores serão as consequências ruins.
Não esconda de Deus o
que Ele já sabe. Ao olhar-se no espelho, pergunte a si mesmo, qual recado
deseja passar com suas roupas, qual mensagem você quer que os outros recebam.
Seja sóbrio. Lembre-se de não permitir que o trabalho, o ministério, ou os
estudos façam concorrência com a sua família, com o seu casamento. Este
sustenta aquele e não vice versa. Não caia na armadilha do status e da
popularidade, vigie seu coração contra a ganância.
Mesmo que você seja
um líder de renome, um grande empresário, tenha um mentor com intimidade com
Deus e coragem para alertá-lo. Deixe a porta aberta para aqueles que o ajudam,
apontando seus erros e decida ter também um companheiro de oração, com quem você
tenha mais abertura e possa caminhar junto.
Pr.
Josué Gonçalves
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