Aprendendo com os erros dos outros – Parte 02













1. De quem estamos falando?

“A melhor maneira que o homem dispõe para se aperfeiçoar, é aproximar-se de Deus.” Pitágoras

Todos nós conhecemos, ao menos superficialmente, algumas passagens da história de Davi. As histórias envolvendo Davi são consideradas por muitos de nós como as histórias mais emocionantes da Bíblia. Elas são tão vibrantes e têm tantos detalhes que tocam as nossas almas. Seus salmos são inconfundíveis e neles encontramos o derramamento sincero da alma humana, naquilo que lhe é mais íntimo e precioso.


Davi, na galeria dos heróis, foi tão grande que sessenta e dois capítulos da Bíblia foram dedicados a sua biografia. Nenhum outro homem ocupa espaço tão vasto nas Escrituras. Há nada menos que 59 referências do Novo Testamento chamando a atenção das pessoas para esse homem. Isso é mais do que qualquer outro personagem bíblico.

No capítulo 11 do segundo livro de Samuel, Davi não estava com 20 anos de idade, não estava com 30 anos de idade, não estava com 40 anos de idade. Davi contava 50 anos de idade àquela altura. E na sua idade ele vivia o período das maiores conquistas. Lembremo-nos que ele era rei e uma das atribuições do rei era semelhante ao que hoje conhecemos por militar. Ele era o comandante ou general dos exércitos de Israel.

Aquele homem vivia o momento áureo de sua carreira. Era também o ápice do seu próprio reino, quando ele podia celebrar suas maiores vitórias. E eu repito o que estou dizendo já há alguns anos no meu ministério: “o sucesso é um terreno minado”.

Mas de repente parece ter ocorrido um “apagão” na cabeça de Davi e ele enviou para a guerra a Joabe, um dos militares do seu exército, homem de sua confiança. Na verdade a Bíblia diz que aquela era uma ocasião de guerra (2Samuel 11.1) e não há qualquer irregularidade nisso, senão no fato de Davi transferir responsabilidades que eram suas. Ele, então, resolveu ficar em casa, em Jerusalém, no seu palácio.

Numa tarde o rei saiu à janela e contemplou a cena imediatamente à sua frente (v. 3). Uma bela mulher tomando banho. Toda a história de sua vida assumiu novo rumo a partir daquele momento. Mas…

… todo aquele que olhar com desejo para uma mulher já cometeu adultério com ela no coração. (Mateus 5.28)

O primeiro texto, que abre este livro é Mateus 26.41, onde Jesus diz: “Vigiai…”. Vigiar não é uma ação a ser feita exclusivamente. Jesus coloca o mandamento para vigiar antes do mandamento para orar. “Vigiai e orai”.

O que devemos vigiar? As circunstâncias? Não. Devemos vigiar o quê? O Diabo? Também não. Devemos vigiar a vida das pessoas à nossa volta? Não, também. Se não é para vigiar as circunstâncias… Se não é para vigiar o Diabo… Se não é para vigiar as pessoas… Então o que devemos vigiar? Vigie os movimentos e insinuações da sua alma. Olhe para dentro de você, porque é da alma, do coração que procedem todas as saídas da vida de um homem e de uma mulher.

Há uma série de textos bíblicos que podem ser usados para amparar o que estou afirmando. Está claro que para Jesus isso funciona deste modo, pois ele mesmo o disse.

Permita-me reforçar a ideia com versículo. O próprio Jesus disse:
Todas essas coisas más procedem de dentro do homem e o tornam impuro. (Marcos 7.23)

Note a verdade que é comum às duas passagens: o mal não está fora do homem; ele nasce no e brota do seu próprio coração. Por isso estou afirmando a você que vigie a sua alma, a sede dos desejos do seu coração. É lá que residem os laços e embaraços que podem desvirtuar e desorientar um homem e uma mulher que ainda estão no caminho e na direção certas.

Davi viva o melhor momento das conquistas militares para o seu reino em Israel. Mas não pense que isso era pouca coisa. Lembre-se da história dele. Ele era o menor da casa de seu pai; depois foi à guerra e venceu um gigante, o Golias, diante de centenas de soldados experientes. Aí ele foi aclamado e depois ungido a rei; por conta disso, Saul o perseguiu implacavelmente. Ele refugiou-se entre os filisteus, inimigos de Israel. Davi organizou um exército de vagabundos. Só depois de muito tempo subiu ao poder, e ainda assim era poder parcial. Ele não iniciou seu reinado como unanimidade. Primeiro reinou sobre a parte sul do país e mais tarde, depois de sete anos, unificou todas as tribos.

Quando tudo se estabilizou, o povo aceitou a sua liderança, o exército estava avançando, ele estava no centro da vontade e dos projetos de Deus para a sua vida… entrou um cisco no seu olho espiritual. Que coisa maligna era essa?

Diante disso, eu pergunto:

— O que leva um homem que vive o seu melhor momento de conquistas a deixar as atividades normais, triviais de sua vida e dar-se a uma prática ociosa e malignamente destrutiva?

Será que o fato de Davi ter ficado em casa enquanto todos estavam na guerra não indica problema na sua alma? Quando estudamos sobre a liderança em nossos dias, nos deparamos com o tema da delegação de autoridade. Não se pode concentrar em uma só pessoa toda a autoridade pela obra do Senhor nem todas as tarefas e atividades. Essa verdade não é nova; desde Jetro, sogro de Moisés, esse princípio tem sido aplicado.

No entanto, quando transferimos a outros aquilo que é nosso dever, mesmo depois de ter partilhado as tarefas, as atividades e as responsabilidades, estamos numa situação de negligência. Isso não é delegação de poder, nem divisão de tarefas: é negligência. Transferir a nossa responsabilidade a outros sem motivo justo é negligência. E sabe o que significa negligência? Descuido na execução de algo; menosprezo.

Davi menosprezou aquilo que Deus havia preparado para ele, aquilo para o qual Deus o havia preparado e aquilo pelo qual o povo esperava que ele se ocupasse. Total menosprezo.

Há nisso uma aplicação para nós no século 21. Preocupa-me quando vejo pastores transferindo a responsabilidade da pregação e ensino em suas igrejas; quando vejo pastores transferindo a responsabilidade do aconselhamento e cuidado do rebanho; quando vejo pastores transferindo a responsabilidade das visitas aos lares que formam suas igrejas. Ou, nas igrejas onde vou pregar, quando vejo o pastor afastar-se do púlpito, transferir a responsabilidade e ir para o seu gabinete… ir para a varanda onde ele pode avistar cenas agradáveis, mas que não são cenas que Deus tem preparado para que ele veja.

Esses indicadores gritam aos nossos ouvidos dizendo que há algo errado com a alma desses líderes e irmãos. A alma deles está desajustada, desalinhada da vontade de Deus. Eles não percebem isso, e são capazes até mesmo de justificar o seu afastamento e ausência.

Pastores, a varanda e a janela não são lugares indicados para vocês estarem. O comandante Davi perdeu a batalha sem sair do seu palácio; bastou-lhe ir à varanda espiar uma cena diferente. Isso diz algo para você? Isso se encaixa em alguma situação vivida atualmente?

A Bíblia diz que foi da varanda que tudo começou a precipitar na vida de Davi. À tarde, levantou-se Davi do seu leito, espreguiçou-se e deve ter pensado: “Deixe-me ver como está o dia”.

Numa tarde, Davi se levantou da sua cama e foi passear no terraço do palácio real. Do terraço ele viu uma mulher que tomava banho; ela era muito bonita. (2Samuel 11.2)

A tentação é um processo lento, porque o Diabo não tem pressa. Muitos de nós andamos por vista, medimos o tempo, planejamos em curto prazo se comparado com a realidade do mundo espiritual. Nós pensamos que se conseguirmos vencer as batalhas de um dia teremos vencido todas as batalhas. Mas o Diabo vive em mundo diferente do nosso e ele tem projetos para derrubar cristãos em cinco anos, em 15 anos, em 20 anos e em 30 anos.
O Diabo não tem pressa, até porque Tiago 1.14,15 nos mostra os estágios da tentação.

Mas cada um é tentado quando atraído e seduzido por seu próprio desejo. Então o desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, após se consumar, gera a morte.

Esse é o processo da caça sendo perseguida pelo caçador. Primeiro olhar, depois cobiçar, então atrair com habilidade, seduzir, e depois conceber. Por fim o nascimento e, consequentemente, a morte. Isto é um plano e suas etapas de execução. Mas este não é o plano de Deus para cada um de nós: é o plano do Diabo.

Que isto quer dizer?

Esse plano deve ser minado e desfeito a qualquer momento. Do contrário, você ou eu seremos derrotados. Considere isso: ou você desfaz o plano maligno ou o Diabo acaba com você e sua carreira, sua família e sua reputação. O Diabo está decidido e empenhado; ele não arreda o pé da própria vocação para matar, roubar e destruir.

E você, qual é a sua decisão?

Minha sugestão é que cada um de nós façamos a avaliação sobre o nível de tentação que temos enfrentado. A partir dela, encararemos a questão de frente. Não cerque-se de justificativas, de falsas proteções. O pecado nunca brinca de ser pecado, embora alguém possa brincar de ser resistente a ele.
No capítulo seguinte, vou apresentar os cinco sinais de um líder em perigo e depois os conselhos que Davi daria aos líderes de hoje.

Pr. Josué Gonçalves

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