O ano de 2013 se encerra, foi marcante para o público evangélico
por conta de intensas discussões a respeito da liberdade de crença e expressão,
embates com ativistas gays, polêmicas sobre racismo e homofobia que cercaram o
pastor Marco Feliciano (PSC-SP), novela com personagem evangélica, entre
outros.
Talvez o evento mais
chocante do ano tenha sido a prisão do pastor Marcos Pereira, líder da igreja Assembleia de Deus dos Últimos
Dias (ADUD), acusado de estuprar fiéis de sua denominação. Mesmo com pontos
obscuros na investigação, como as denúncias de depoimentos forjados contra
Pereira, o pastor foi condenado em primeira instância e está preso no complexo
penitenciário de Bangu, no Rio de Janeiro.
Os holofotes sobre
Marco Feliciano também foram intensos e acusatórios. O pastor da Assembleia de Deus Catedral do
Avivamento e deputado federal virou o centro das atenções políticas quando foi
eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara
dos Deputados.
Feliciano já era
velho adversário dos ativistas gays, que com sua exposição, passaram a atacá-lo
de forma mais acentuada, repercutindo antigas declarações do pastor sobre
homossexualidade, e acusando-o de racismo, por ter dito certa vez que, na
teologia, há uma linha de pensamento que defende a teoria de que descendentes
de Noé, amaldiçoados por seu patriarca, tinham ido habitar a África.
As declarações,
inoportunas para o canal que Feliciano usou – o Twitter – foram propagadas fora de contexto e se tornaram
combustível para a maior pressão política e social que se tem notícia de que um
único deputado tenha sofrido. Firme, o pastor resistiu ao cargo e ainda
desafiou, em troca de sua renúncia, o Partido dos Trabalhadores – legenda esta
que foi sua maior adversária na CDHM – a retirar os parlamentares João Paulo
Cunha e José Genoíno, condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no
processo do mensalão, da Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
O mandato de
Feliciano à frente da CDHM terminou com o pastor sendo portador de alto capital
político, convidado por diversos partidos para sair candidato nas eleições de
2014. No entanto, Marco Feliciano optou por permanecer em sua legenda, o PSC, e
tentar a reeleição na Câmara. Há quem acredite que as urnas reservam
aproximadamente 1 milhão de votos para o pastor. A conferir.
As eleições 2014,
quando a presidente Dilma Rousseff (PT) tenta a reeleição, também foi fator importante
para a derrubada do polêmico PLC 122, projeto que tramita há mais de uma década
no Congresso Nacional e que previa, segundo a maioria dos líderes evangélicos
do país, “privilégios para ativistas gays” em detrimento de direitos
constitucionais universais a todos os brasileiros.
Preocupada em manter
o apoio de correntes dentro do meio evangélico, Dilma pediu aos senadores que
votassem o PLC 122 apenas após as eleições. O pedido, acatado pela bancada
governista, foi logo esquecido após a decisão dos senadores de apensar o
projeto ao texto do novo Código Penal, que vem sendo costurado no Senado com a
ajuda de renomados juristas.
Dessa forma, o PLC
122, proposto pela ex-deputada Iara Bernardi, foi enterrado politicamente. A
derrota irritou um dos principais ativistas gays do Brasil, o deputado federal
Jean Wyllys (PSOL-RJ).
Há a
possibilidade de que suas propostas retornem em forma de artigos no novo Código
Penal, mas a discussão em torno do tema será extensa e demorada.
Um dos que mais
comemoraram o fim do PLC 122 foi o pastor Silas Malafaia. Conhecido por seu empenho contra o projeto, o pastor
organizou uma manifestação pacífica em Brasília no dia 05 de junho, reunindo
inúmeros artistas gospel e milhares de fiéis em frente ao Congresso Nacional,
para pedir a preservação da liberdade de expressão, religiosa, defesa da
família e da vida.
Na política, o pastor
deu o tom de sua postura ao expressar-se publicamente contra o PT na esfera
federal, e zombar do partido após o anúncio de Marina Silva como integrante da
candidatura de Eduardo Campos (PSB) ao Palácio do Planalto. À época, o pastor
usou o Twitter para provocar a
legenda: “Chora PT”.
No cenário cristão, Malafaia se viu estampado
como um dos cinco líderes religiosos mais ricos do Brasil pela edição nacional
da revista Forbes. O pastor da Assembleia de Deus Vitória em
Cristo (ADVEC) foi apontado como proprietário de uma fortuna de US$ 150
milhões, logo atrás do apóstolo Valdemiro Santiago, que teria patrimônio equivalente a US$ 220
milhões e do bispo Edir Macedo, proprietário da TV Record e supostamente de
valores que chegariam a US$ 950 milhões. Completavam a lista da Forbes o empresário e
missionário R. R. Soares, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus e
“dono” de US$ 125 milhões; e o casal Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo.
Juntos, Estevam e Sonia, seriam donos de aproximadamente US$ 65 milhões.
A fortuna atribuída a
Valdemiro Santiago teria
chamado a atenção de outros integrantes da Igreja Mundial do Poder de Deus e
virado protagonista de um escândalo interno na denominação. Desvios de dízimos
e ofertas teriam aberto um rombo nas contas da igreja e resultado no
afastamento do bispo Josival Batista, braço
direito do apóstolo e responsável pelas contas da igreja.
Batista foi
transferido para Portugal, enquanto que outros 100 pastores, subordinados a
ele, foram afastados de suas funções.
As dívidas da Mundial
teriam chegado a R$ 21 milhões, e a maior parte do valor seria de aluguéis das
programações de emissoras do Grupo Bandeirantes, como o Canal 21 e a própria Band. Com a falta de
pagamento, a denominação neopentecostal perdeu os horários
que ocupava para sua maior concorrente, a Igreja Universal do Reino de Deus, do
bispo Edir Macedo.
Sem espaço nas
principais emissoras em que veiculava seus cultos, Valdemiro apostou na exposição
de sua imagem, e encontrou guarida no SBT, emissora que há tempos ele sonda
para ocupar a grade de programação nas madrugadas. Embora suas tentativas
venham sendo rechaçadas, Valdemiro ajudou o SBT a
derrubar a TV Record – emissora de seu adversário, bispo Macedo – durante um
domingo, quando participou do programa Domingo Legal. A boa performance rendeu
outros dois convites: uma entrevista ao apresentador Ratinho, seu antigo
desafeto, e uma participação no Programa Silvio Santos, ao lado do homem do
baú, que ainda não foi levada ao ar.
O público evangélico
viu, em 2013, a Globo mergulhar de cabeça na sua estratégia de buscar
aproximação com o público evangélico. Os executivos da emissora da família
Marinho não sabiam, no entanto, que a piscina era rasa. As empreitadas com o
Festival e Troféu Promessas foram fracassadas. O primeiro, registrou a menor
audiência desde que foi lançado, e o segundo, teve sua festa de premiação
cancelada por causa dos custos.
A maior ambição das
Organizações Globo era substituir a falida Expocristã com sua Feira Internacional Cristã (FIC), porém a
iniciativa também não saiu como esperado, e provavelmente a FIC não tenha uma
segunda edição. A estratégia mais bem sucedida até o momento é a criação de um
núcleo evangélico na novela Amor à Vida, escrita por Walcyr Carrasco. O sucesso
– se o critério de avaliação for a audiência – da personagem Gina, convertida
ao Evangelho, resultou no retorno à trama do personagem Efigênio, como pastor
de uma igreja apresentada pela novela sem caricaturas. As redes sociais, que antes
eram palco de críticas à emissora por conta das personagens evangélicas
caricatas, não registraram protestos contra o folhetim.
No âmbito
internacional, temas como perseguição e intolerância religiosa tem sido
manchete nos principais veículos de informação voltados ao público cristão. Um
dos ícones cristãos do século XX, o evangelista Billy Graham (conhecido por
superar barreiras de perseguição religiosa mundo afora e anunciar o Evangelho),
pregou seu último sermão aos 95 anos em novembro, numa edição da Cruzada Minha
Esperança que foi planejada durante meses por seus auxiliares. Com a saúde
debilitada, Graham esteve internado duas vezes esse ano por conta de problemas
respiratórios, e seu filho caçula, o pastor Franklin, pediu oração por seu pai.
A Igreja Católica
assistiu a eventos inéditos em sua história recente, como a renúncia do papa
Bento XVI e a eleição a pontífice do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, que já havia sido
cotado para o cargo em 2005, durante o conclave que definiu Joseph Ratzinger como sucessor de
João Paulo II.
Carismático, Bergoglio escolheu ser chamado
Francisco, em referência ao religioso que inspira os integrantes das
organizações franciscanas dentro da Igreja Católica, e conquistou a simpatia do
mundo com seu jeito simples e sua mensagem de humildade. A primeira viagem do
novo papa foi ao Brasil, durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que
reuniu milhões de católicos no Rio de Janeiro.
o nosso país.
Movimentos sociais, que entre junho e julho deste ano tomaram as ruas – com
apoio de diversas lideranças cristãs – em protestos contra a corrupção e a
favor de reforma política, prometem voltar à carga durante a realização dos
jogos entre seleções organizados pela Federação Internacional de Futebol
Associado (FIFA) e durante a campanha eleitoral.
Por
Tiago
Chagas.
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