Aprendendo com os erros dos outros – Parte 5






2. O que devemos aprender?

“O sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo o que diz.” Aristóteles

No capítulo anterior vimos como a experiência – amarga – de Davi pode fornecer conselhos para cada um de nós, líderes. Todos eles foram extraídos do próprio relato bíblico e são orientações tiradas da vida real daquele que foi o maior rei de Israel.


Neste capítulo vamos apresentar duas medidas a serem tomadas criteriosamente, com a finalidade de cercar a nossa alma dos laços que insistem em apanhar de surpresa. A bem da verdade, o pecado é o mesmo desde o Éden, concorda? Eva foi tentada quando a serpente distorceu a verdade de Deus e fez a mulher imaginar uma situação “agradável aos olhos e desejável” (Gênesis 3.6). Ao longo dos séculos e milênios o Diabo insiste nessa estratégia, simplesmente “atualizando” o seu argumento; mas o modelo é o mesmo. E o que é pior: muita gente ainda cai na sua conversa.

Então, a pergunta a ser respondida neste ponto é:  Como vencer a tentação de pecar quebrando uma aliança?

Se os nossos olhos estão vendo cenas agradáveis, se estamos sendo atraídos por paisagens encantadores, mas enganosas, é preciso levantar muros de proteção para que não aconteça conosco o que aconteceu com Davi, com Bate-Seba, com Urias e mesmo com Joabe. Mas como fazer isso?

Minhas sugestões

Sugestão número 1: Tenha um mentor com o perfil de Natã. 
Nos dias de Davi havia um profeta, que frequentava o palácio do rei, e o seu nome era Natã. Falamos pouco a seu respeito em nosso livro.

Natã soube dos crimes cometidos por Davi porque o Senhor revelou a ele. É o cuidado de Deus com aqueles que são seus. Natã, então, foi ao palácio e entrou à presença de Davi, o que nos ensina que o rei o tinha como conselheiro. Nenhum líder deve imaginar que seu sucesso decorre exclusivamente da sua capacidade. A porta do gabinete de um líder deve permanecer aberta para os seus colaboradores; eles devem ter livre acesso a nós.

Na presença do rei, Natã contou uma parábola e Davi se indignou com ela. Veja a história:

O Senhor enviou Natã a Davi. Quando ele chegou, disse a Davi: Numa cidade havia dois homens, um rico e outro pobre. O rico tinha rebanhos e manadas em grande número; mas o pobre não tinha coisa alguma, senão uma pequena cordeira que comprara e criara; ela crescera com ele e com seus filhos; comia da sua porção, bebia do seu copo e dormia em seus braços; e ele a considerava como filha. Certa vez, um viajante chegou à casa do rico; mas ele não quis pegar uma ovelha sua ou um boi seu para dar de comer ao viajante que o visitava, assim tomou a cordeira do pobre e a preparou para o seu hóspede. (2Samuel 12.1-4)
Ao ouvir a parábola Davi ficou indignado. Disse que o homem que fez aquilo deveria ser morto! Natã, então, olhou nos olhos do rei e disse: “Esse homem és tu” (v. 7).

Qual a finalidade dessa ocorrência? Por que o Senhor revelou os segredos do rei e enviou o profeta para falar com Davi? Isso se chama cuidado, zelo, que irão resultar em restauração.

Mas é preciso que nós, líderes, tenhamos pessoas que nos possam confrontar. Quem do seu relacionamento tem liberdade de acesso para confrontá-lo? Quem do seu relacionamento pode fazer perguntas a você com liberdade? Quem é o seu mentor?

O sucesso eleva qualquer pessoa a um patamar de isolamento perigosíssimo. E no isolamento, a natureza humana pecaminosa, inclusive a nossa, de cristãos, pode “revirar-se no caixão” e querer sair. A história da humanidade e a própria história da Igreja tem casos e mais casos de pessoas que perderam a direção certa porque se deixaram levar pela autonomia, pela autossuficiência. Igreja só é igreja na comunhão dos irmãos. Ninguém é igreja sozinho. Você e eu temos o Espírito Santo habitando-nos, isso é certo e bíblico. Mas para sermos parte da Igreja precisamos ter comunhão uns com os outros. O isolamento é maligno.

Para concluir o plano da salvação da humanidade, Jesus precisava ir à Jerusalém a fim de morrer por nossos pecados. Pedro desconsiderou o aspecto social dessa obra, o aspecto comunitário universal e, pensando com a própria cabeça, disse a Jesus que não fosse àquela cidade. Tentou isolar Jesus. Qual foi a resposta do mestre: “Para trás de mim, Satanás, que não cogitas [não pensas] as coisas de Deus”.

O isolamento é maligno.

Por isso, cerque-se de pessoas de Deus, com visão espiritual aguçada e que tenham liberdade e sensatez para contribuir com você em todos os momentos da sua vida, seja na carreira pessoal no ministério, seja no trabalho secular se você o tem, seja nos novos projetos e até mesmo em decisões pessoais.
Quem é que confronta você, dizendo: “Esse não é o caminho de Deus para a sua vida. Afasta-te daí. Onde está a sua cabeça?”.
Amigo é quem não tem medo de confrontá-lo quando você está em caminhos de morte. Esse é seu amigo. Você tem gente assim ao seu lado?

Conta a história que um grande pintor trabalhava na execução de um pintura maravilhosa. Era um painel alto e ele trabalhava em cima do andaime. Um mês todo pintando a grande obra.

Quando o painel ficou pronto ele ficou embriagado com a beleza do quadro. A fim de contemplá-lo, afastou-se um pouco da imagem, ainda em cima do andaime. O amigo que estava embaixo, percebendo que o pintor cairia caso desse mais um passo para trás, tomou uma brocha que estava no chão dentro de uma lata de tinta e atirou-a no quadro, estragando a pintura.

O pintor irritado deu um pulo para frente e esbravejou: “Você ficou louco? Um mês inteiro de trabalho e você destruiu tudo!” E o amigo respondeu: “Eu destruí o seu quadro, mas salvei a sua vida”.

É a vida que precisamos preservar a qualquer custo, não o quadro.
Se o quadro que você está pintando para o seu ministério, para a sua família e para você mesmo o leva em direção à morte, é preciso destruir o quadro e preservar a vida.
A contemplação da obra pode distraí-lo do perigo na vida real. A obra é maravilhosa, mas a vida é espetacular. Prefira sempre a vida.

Como são sedutoras muitas carreiras diante de nós. Mas não hesite em ter por perto pessoas dispostas a desfazer a sedução para salvar a nossa vida. Se você não tem essa pessoa, ore e peça a Deus, que dará a você um Natã. Deus levantará um mentor à altura para estar ao seu lado; um mentor com coragem de estragar o seu quadro e resgatar a sua vida.

E esta é a minha oração:

Senhor, para cada um de nós, dá um Natã neste dia. Para cada um de nós, dá um Natã que chegue a tempo, antes que o pior aconteça.

Erga esse muro de proteção em torno da sua vida e mantenha alto o nível de resistência por meio da disciplina, da oração e da Palavra. E pratique essas coisas, aplique-se nelas de fato, pois o Diabo não respeita quem fala de oração: o Diabo respeita quem de fato ora.

Viva de acordo com um código de integridade.

Sugestão número 2: Desenvolva um código de integridade 
Você tem um código de integridade? Se tem, então viva de acordo com ele.

O desenvolvimento de um código de integridade começa quando você se compromete com linhas mestras auto-impostas que lhe dão a sensação de controle moral sobre a própria vida. Esse esforço imprime e reforça a sua vontade pessoal ou seu modo de reagir quando as tentações surgirem.

Que tipos de linhas mestras podem ser cultivadas e auto-impostas?

Um exemplo é a criação de uma aliança com um companheiro de oração. Certa vez o pastor Jocimar Fonseca ligou para mim e disse:
“Estava no monte orando, o seu nome veio à minha mente e eu orei por você. Como está você? Como está a sua casa? E a sua família? Como vão as coisas no seu ministério? E o seu coração?”

E respondi a ele o seguinte:

“Já que você ligou pra mim, vamos fazer uma aliança? Vamos fazer uma parceria de oração?”.

Eu orei por ele, e ele fez uma bonita oração em meu favor. Selamos uma aliança de oração mútua.

Você precisa de um parceiro com o qual tenha uma aliança de oração, porque a oração é uma das principais linhas mestras da vida de todo homem e mulher de Deus.

Mas não é a única. Se você procura um código de integridade para seguir e pautar a sua vida eu sugiro que leia nos evangelhos, no evangelho de Mateus, por exemplo, o Sermão do Monte. Lá há várias cláusulas fundamentais que podem ser usadas para compor o seu código. O Sermão do Monte é um baú com tesouros que podem enriquecer a sua vida e a sua experiência com Deus. Use à vontade, retire de lá o que precisar. Não é a única fonte de riquezas para a nossa vida, evidentemente. Há outras porções das Escrituras de onde você pode retirar direcionamento seguro e saudável para a sua alma.

E não se esqueça: envolva pessoas no seu código. O isolamento é maligno e não ajudará você em nada. Às vezes nos encontramos com amigos, parceiros no ministério, e só falamos em projetos, planos, estratégias, dificuldades de avançar na obra e sobre tantas outras coisas. No entanto, nos esquecemos de perguntar: — Como vai a alma? Como vai o coração? Como vai o ministério? Como vai a chama dentro do teu peito? Ela está acesa?

Conclusão

“O único lugar aonde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.” Albert Einstein

Permitindo que o Sermão da Montanha aconselhasse o rei Davi, aprendemos que há uma necessidade premente de vigilância concentrada, organizada e comunitária. Um caráter consistente forma a base sobre a qual o serviço deve ser executado. Quanto mais talentoso, quanto mais famoso, melhor e mais firme deve ser a fundação do caráter. Em uma batalha, mais importante do que derrubar muitos inimigos, é permanecer forte para não dar trabalho aos companheiros e ainda continuar a combater. 
Portanto, vigie e proteja-se. O Rei Davi, valente, famoso, querido de Deus, ungido, músico, salmista e amigo de Deus deixou de vigiar enquanto tirava seu tempo de lazer.

Ele pecou grosseiramente, tentou consertar um erro com outro pior ainda e, mesmo sendo amigo de Deus (ou talvez, justamente por ser) colheu o fruto amargo do seu erro, trazendo sofrimento sobre sua família e seu reinado, que nunca mais foram os mesmos, depois da sua queda.

Para evitar tal desvio, você precisa vigiar, sondar, buscar e ficar muito atento ao que se passa na sua mente, nos seus pensamentos, tendo atenção dobrada para os momentos mais críticos de lazer e descanso, quando a tentação pode vir com mais força.

Todo bom sentinela sabe que há sinais que apontam para a presença ou chegada do inimigo, portanto, você precisa ficar ligado. Enfrente suas fraquezas de caráter com seriedade, nunca faça uso da mentira, fique atento às ações impulsivas e saiba que quando você usa os dons dados por Deus para proveito próprio, você corre um sério perigo.

Atenção para os sinais:

• Negligência com suas tarefas mais essenciais,
• Brincadeira com o pecado, patrocinadas pela autossuficiência soberba e enganosa.
• Falta de controle em pequenas atitudes, que apontam para um descontrole maior.
• Mentira, que passa a se apresentar, sempre que é necessário inventar uma desculpa para patrocinar o comportamento de risco, ou o pecado em si.

Diante deste diagnóstico, que aponta para a necessidade urgente da vigilância, aceite os conselhos para os candidatos a sabedoria. Você precisa descobrir o seu ponto fraco e vigiá-lo incansavelmente, ainda que precise da ajuda de um amigo, do cônjuge ou do seu tutor (talvez você precise dos três).

Não caia na armadilha dos extremos de ficar à toa, ocioso e se defrontar com o pecado e nem fique tão cansado ao ponto de perder o ânimo e a vontade de viver. Um extremo é o de se permitir e agradar a carne; o outro é levar a si mesmo para desfalecer sem descanso. Ambos devem ser evitados a qualquer custo.

Como o descanso é tão importante quanto o trabalho, descanse de tal maneira que você ainda seja edificado. Descubra o prazer em atividades nobres e elevadas. Se você perceber sentimentos muito intensos voltados a determinada tarefa ou pessoa, fique alarmado, pois pode ser uma paixão destrutiva e proibida. Fuja da fonte de tais sentimentos. Fuja mesmo, nada de achar que é forte. Se já está envolvido, de alguma forma, resolva pelas vias corretas da verdade e confissão, nunca acrescentando mais problemas ainda. Seja firme, confesse e enfrente as consequências enquanto a situação não ficou pior. Deus vai perdoar e quanto antes voltar atrás, menores serão as consequências ruins.

Não esconda de Deus o que Ele já sabe. Ao olhar-se no espelho, pergunte a si mesmo, qual recado deseja passar com suas roupas, qual mensagem você quer que os outros recebam. Seja sóbrio. Lembre-se de não permitir que o trabalho, o ministério, ou os estudos façam concorrência com a sua família, com o seu casamento. Este sustenta aquele e não vice versa. Não caia na armadilha do status e da popularidade, vigie seu coração contra a ganância.

Mesmo que você seja um líder de renome, um grande empresário, tenha um mentor com intimidade com Deus e coragem para alertá-lo. Deixe a porta aberta para aqueles que o ajudam, apontando seus erros e decida ter também um companheiro de oração, com quem você tenha mais abertura e possa caminhar junto.


Pr. Josué Gonçalves

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